Brasil: Geologia

Área total: 8.514.876,599 km²
Água: 0,65%

 

O território brasileiro, juntamente com o das Guianas, distingue-se nitidamente do resto da América do Sul. Seu embasamento abriga as maiores áreas de afloramento de rochas pré-cambrianas, os chamados escudos: o escudo ou complexo Brasileiro, também designado como embasamento Cristalino, ou simplesmente Cristalino; e o escudo das Guianas. Os terrenos mais antigos, constituídos de rochas de intenso metamorfismo, formam o complexo Brasileiro. O escudo das Guianas abarca, além das Guianas, parte da Venezuela e do Brasil, ao norte do rio Amazonas. Entre ambos situa-se a bacia sedimentar do Amazonas, cuja superfície está em grande parte coberta por depósitos cenozóicos, em continuação aos da faixa adjacente aos Andes.

As rochas mais antigas do escudo das Guianas datam de mais de dois bilhões de anos. É portanto uma área estável de longa data. Na faixa costeira do Maranhão e do Pará ocorrem rochas pré-cambrianas, que constituem um núcleo muito antigo, com cerca de dois bilhões de anos. A região pré-cambriana de Guaporé é coberta pela floresta amazônica. A do rio São Francisco estende-se pelos estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás. Há dentro dessa região uma unidade tectônica muito antiga, o geossinclíneo do Espinhaço, que vai de Ouro Preto MG até a borda meridional da bacia sedimentar do Parnaíba. As rochas mais antigas dessa área constituem o grupo do rio das Velhas, com idades que atingem cerca de 2,5 bilhões de anos.

As rochas do grupo Minas assentam-se em discordância sobre elas, e são constituídas de metassedimentos que em geral exibem metamorfismo de fácies xisto verde, com idade aproximada de 1,5 bilhão de anos. Pertence a esse grupo a formação Itabira, com grandes jazidas de ferro e manganês. Sobre as rochas do grupo Minas colocam-se em discordância as do grupo Lavras, constituídas de metassedimentos de baixo metamorfismo, com metaconglomerados devidos talvez a uma glaciação pré-cambriana.

Grande parte da área pré-cambriana do São Francisco é coberta por rochas sedimentares quase sem metamorfismo e só ligeiramente dobradas, constituídas em boa parte de calcários. Essa seqüência é conhecida como grupo Bambuí, com idade em torno de 600 milhões de anos, época em que provavelmente a região do São Francisco já havia atingido relativa estabilidade.

Ao que parece, um grande ciclo orogenético, denominado Transamazônico, ocorrido há cerca de dois bilhões de anos, perturbou as rochas mais antigas dessa faixa pré-cambriana. Ao final do pré-cambriano, as regiões do São Francisco e do Guaporé eram separadas por dois geossinclíneos -- o Paraguai-Araguaia, que margeava as terras antigas do Guaporé pelo lado oriental; e o de Brasília, que margeava as terras antigas do São Francisco pelo lado ocidental.

As estruturas das rochas parametamórficas do geossinclíneo Paraguai-Araguaia orientam-se na direção norte-sul no Paraguai e sul do Mato Grosso, curvam-se para o nordeste e novamente para norte-sul no norte de Mato Grosso e Goiás e atingem o Pará através do baixo vale do Tocantins, numa extensão de mais de 2.500km. Iniciam-se por uma espessa seqüência de metassedimentos que constituem, no sul, o grupo Cuiabá, e no norte, o grupo Tocantins. Essa seqüência é recoberta pelas rochas do grupo Jangada, entre as quais existem conglomerados tidos como representantes do episódio glacial.

O geossinclíneo Brasília desenvolveu-se em parte dos estados de Goiás e Minas Gerais. Suas estruturas, no sul, dirigem-se para noroeste e depois curvam-se para o norte. A intensidade do metamorfismo decresce de oeste para leste e varia de fácies anfibolito a fácies xisto verde. A região central de Goiás, que separa os geossinclíneos Paraguai-Araguaia e Brasília, é constituída de rochas que exibem fácies de metamorfismo de anfibolito.

Uma longa faixa metamórfica, chamada de geossinclíneo Paraíba, estende-se ao longo da costa oriental do Brasil, do sul da Bahia ao Rio Grande do Sul e Uruguai. Suas rochas de metamorfismo mais intenso estão na serra do Mar. As rochas de baixo metamorfismo (xistos verdes) são grupadas sob diferentes nomes geográficos: grupo Porongos, no Rio Grande do Sul, grupo Brusque, em Santa Catarina, grupo Açungui, no Paraná e sul de São Paulo, e grupo São Roque, na área de São Roque-Jundiaí-Mairiporã, no estado de São Paulo. Gnaisses e migmatitos da área pré-cambriana do norte, em São Paulo e partes adjacentes de Minas Gerais, constituem a serra da Mantiqueira.

A faixa orogenética do Cariri, no Nordeste, possui direções estruturais muito perturbadas por falhamentos. Um grande acidente tectônico, o lineamento de Pernambuco, separa a faixa do Cariri do geossinclíneo de Propriá. O grupo Ceará, importante unidade da faixa tectônica do Cariri, apresenta metassedimentos com metamorfismos que variam da fácies xisto verde à de anfibolito, recobertos em discordância pelas rochas do grupo Jaibara.

A fase de sedimentação intensa de todos esses geossinclíneos ocorreu no pré-cambriano superior, e seu fim foi marcado por um ciclo orogenético, o ciclo Brasileiro, ocorrido há cerca de 600 milhões de anos. Suas fases tardias atingiram os períodos cambriano e ordoviciano, e produziram depósitos que sofreram perturbações tectônicas, não acompanhadas de metamorfismo. Em Mato Grosso, extensos depósitos calcários dessa época constituem os grupos Corumbá, ao sul, e Araras, ao norte. Em discordância sobre o Corumbá, assentam as rochas do grupo Jacadigo, constituídas de arcósios, conglomerados arcosianos, siltitos, arenitos e camadas e lâminas de hematita, jaspe e óxidos de manganês.

Na faixa atlântica há indícios de manifestações vulcânicas riolíticas e andesíticas associadas aos metassedimentos cambro-ordovicianos, e também granitos intrusivos, tardios e pós-tectônicos. Os sedimentos cambro-ordovicianos, que marcam os estertores da fase geossinclinal no Brasil, não possuem fósseis, por se terem formado em ambiente não-marinho. Ocupam áreas restritas, cobertas discordantemente pelos sedimentos devonianos ou carboníferos da bacia do Paraná. A maior área encontra-se no estado do Rio Grande do Sul.

A seqüência da base é chamada de grupo Maricá, à qual sucede o grupo Bom Jardim, que consiste em seqüências sedimentares semelhantes às do grupo Maricá, mas caracterizadas por um vulcanismo andesítico muito intenso. Segue-se o grupo Camaquã, cujas rochas exibem perturbações mais suaves que as dos grupos sotopostos. Nas fases iniciais de deposição desse grupo, ocorreu intenso vulcanismo riolítico, mas há evidências de fases vulcânicas riolíticas anteriores: os conglomerados do grupo Bom Jardim contêm seixos de riólitos. Também durante as fases de sedimentação das rochas do grupo Camaquã, ocorreu vulcanismo andesítico intermitente.

O grupo Itajaí, em Santa Catarina, é outra grande área de rochas formadas em ambiente tectônico. O grupo Castro, no Paraná, constituído de arcósios, siltitos e conglomerados, parece ter-se formado na mesma época desses grupos. Riólitos, tufos e aglomerados ocorrem em diversos níveis dessa seqüência, e rochas vulcânicas andesíticas marcam as fases finais. Sobre as rochas do grupo Castro descansa uma seqüência de conglomerados, a formação Iapó.

Bacias sedimentares. Distinguem-se, por sua estrutura, três grandes bacias sedimentares intracratônicas no Brasil: Amazonas, Parnaíba (ou Maranhão) e Paraná. A bacia do Amazonas propriamente dita ocupa apenas a região oriental do estado do Amazonas e o estado do Pará, com exceção da foz do Amazonas, que pertence à bacia de Marajó. Os terrenos mais antigos datam da era paleozóica e alinham-se em faixas paralelas ao curso do rio Amazonas. As rochas do período devoniano ocorrem tanto na bacia do Amazonas como nas do Parnaíba e do Paraná. Outros datam da era mesozóica e são cretáceos (séries Acre e Itauajuri, formação Nova Olinda), e constituem, com os anteriores, zonas com possibilidades de jazidas petrolíferas. Mas as maiores extensões correspondem aos terrenos recentes, particularmente pliocênicos (série Barreiras), mas também pleistocênicos (formação Pará) e holocênicos ou atuais, todos de origem continental.

A bacia sedimentar do Parnaíba situa-se em terras do Maranhão e do Piauí. Os terrenos mais antigos remontam à era paleozóica e em geral são de origem marinha; os devonianos subdividem-se em três formações: Picos, Cabeças e Longá. Distinguem-se na bacia do Parnaíba três ciclos de sedimentação separados por discordâncias: (1) siluriano; (2) devoniano-carbonífero inferior; (3) carbonífero superior-permiano. Durante o intervalo siluriano-carbonífero inferior, a área de maior subsidência situava-se no limite sudeste da atual bacia, o que lhe conferia grande assimetria em relação aos atuais limites da bacia. Isso significa que a borda oriental atual é erosiva e não corresponde à borda original. A história da bacia durante o permiano acha-se documentada pelos depósitos das formações Pedra de Fogo e Motuca.

A bacia do Paraná é uma das maiores do mundo. Mais de sessenta por cento de sua área de 1.600.000km2 ficam no Brasil; cerca de 25% na Argentina e o restante no Paraguai e Uruguai. É definida como unidade autônoma a partir do devoniano, embora ocorram sedimentos marinhos silurianos fossilíferos no Paraguai, de extensão limitada. Distinguem-se na bacia do Paraná três ciclos de sedimentação paleozóica (siluriano, devoniano, permocarbonífero), separados entre si por discordâncias. Os sedimentos marinhos do fim do paleozóico são bem menos importantes que nas duas outras bacias, mas ao contrário delas, essa bacia possui sedimentos marinhos permianos.