segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Goiás: História

Quase um século após o descobrimento do Brasil, os colonizadores portugueses trilharam pela primeira vez as terras de Goiás. Ficaram famosas, entre outras, as expedições de Domingos Rodrigues (1596), Belchior Dias Carneiro (1607), Antônio Pedroso de Alvarenga (1615) e Manuel Campos Bicudo (1673), além da mais famosa, a de Bartolomeu Bueno da Silva, com seu filho de igual nome, então com apenas 12 anos de idade. Bueno encontrou em pleno sertão a bandeira de Manuel Campos Bicudo, que conduzia presos índios da nação dos araés, cuja área parecera ao bandeirante extraordinariamente rica em minas de ouro. De acordo com as indicações de Bicudo, para ali seguiu Bartolomeu Bueno, que aprisionou os silvícolas restantes e colheu muitas pepitas de ouro.

Parece datar dessa época o episódio segundo o qual Bueno pedira aos índios que lhe mostrassem o lugar de onde retiravam o ouro empregado em seus adornos. Diante da negativa, o bandeirante despejou aguardente num recipiente e queimou-a, dizendo aos selvagens que o mesmo faria com a água de todos os rios e nascentes, matando-os de sede, se não lhe fosse mostrada a mina. Apavorados, os índios levaram-no à jazida e passaram a chamá-lo de Anhangüera, que significa "diabo velho", nome com que Bueno e seu filho passaram à história. Depois disso, graças ao sucesso da expedição do Anhangüera e de novas iniciativas dos reis portugueses para a descoberta das riquezas do subsolo brasileiro, foram muitas as bandeiras que cortaram, em todas as direções, as paragens goianas, algumas delas provenientes do Maranhão.

O objetivo das bandeiras era unicamente o descobrimento e a cata do ouro e outros metais preciosos, pois na época um breve papal condenara a escravização do índio, talvez por influência das inúmeras expedições religiosas que penetraram o solo goiano, a começar pela do frei Cristóvão de Lisboa, que fundou uma missão religiosa na área do Tocantins (1625). As entradas e bandeiras culminaram com a expedição de Bartolomeu Bueno da Silva, o segundo Anhangüera, que em 1720, juntamente com seus cunhados João Leite Ortiz e Domingos Rodrigues do Prado, requereu a João V licença para penetrar os altos sertões e avançar pelos centros da América, em busca de minas de ouro, prata e pedras preciosas. Pedia em troca a munificência real das passagens dos rios que encontrassem.

No ano seguinte, o capitão-general de São Paulo, D. Rodrigo César de Meneses, mandou chamar Bueno e estabeleceu com ele o ajuste de uma bandeira para localização e exploração da mina de ouro descoberta por seu pai. Em pouco tempo, Bueno arregimentou uma poderosa bandeira, que partiu de São Paulo em 3 de setembro de 1722, tomou o rumo do rio Grande e caminhou, sem encontrar tropeços, até o rio Paranaíba. Feita a travessia, desviou-se para o nordeste, pelo espigão do rio São Marcos, e foi atingir a lagoa Mestre d'Armas, poucos quilômetros acima do local onde hoje se ergue Brasília. Em seguida, rompeu o divisor das águas, foi ter às margens do rio Maranhão, ponto onde se cindiu a bandeira: parte dos seus integrantes desceu pelo grande rio, enquanto Bartolomeu Bueno e seus seguidores caminharam para o sudoeste, à procura da região dos goiases.

Em 21 de outubro de 1723, após mais de três anos nos chapadões, serras e matas, quando o governo paulista já cogitava de mandar uma expedição em seu socorro, Bueno regressou e foi exibir a D. Rodrigo amostras de ouro de várias minas descobertas.

Febre do ouro. A notícia da façanha do Anhangüera levou milhares de brasileiros a enveredarem sertão adentro. Imediatamente, o capitão-general de São Paulo comunicou o fato a D. João V, que respondeu com carta régia de 29 de abril de 1726, na qual deferia todos os pedidos formulados pelos descobridores. Como decorrência, D. Rodrigo César de Meneses passou a Bueno e a seu cunhado João Leite Ortiz a carta de sesmaria de 2 de julho de 1726, dando-lhes o direito das passagens de vários rios existentes no itinerário feito, bem como seis léguas de terras de testada à margem dos mesmos rios.

Munido de tais privilégios, Bueno retornou em seguida a Goiás e parou num sítio próximo à serra Dourada, onde encontrou diversas minas e fundou o primeiro povoado em terras goianas, com o nome de Barra, hoje Buenolândia. Achadas depois, a pouca distância, minas mais copiosas, para lá se transportaram os moradores de Barra e fundaram, em 26 de julho de 1727, o arraial de Sant'Ana, que mais tarde (1739) tomaria o nome de Vila Boa, corruptela de Vila Bueno, núcleo da cidade de Goiás, sede do governo da capitania.

Em 1728 Bartolomeu Bueno assumiu as funções de superintendente-geral das minas de Goiás, cabendo-lhe a administração da justiça civil, criminal e militar. Ficava assim constituída a primeira organização político-administrativa das terras até então habitadas pelos selvagens. À medida que se iam descobrindo outras regiões auríferas, novos povoados se erguiam: Meia Ponte (hoje Pirenópolis), Ouro Fino, Santa Rita de Anta, Santa Cruz, Crixás, São José, Água Quente e Traíras.

No final de 1733, em virtude de intrigas políticas entre o governo de São Paulo e o reino, Bueno foi destituído de suas funções e substituído por Gregório Dias da Silva. A chegada do novo superintendente a Goiás coincidiu com o descobrimento de importantes jazidas, mas a implantação do imposto por capitação em vez dos antigos quintos deu motivo a graves motins e revoltas, sobretudo nas minas do Norte.

Domínio paulista. Durante meio século (1730-1782) houve um só caminho para Goiás, o das bandeiras paulistas. Estabeleceu-se, em 1736, comunicação regular de Vila Boa com o litoral sul, através de Paracatu e São João del Rei, em Minas Gerais, até o Rio de Janeiro. A exploração das minas foi entregue aos paulistas, que dominaram a região e se estabeleceram no alto do Tocantins, predominando no médio Tocantins os contingentes humanos oriundos do norte. A interrupção da navegação acarretou o truncamento das relações entre o centro e o norte e a decadência de grande parte das povoações surgidas na zona dos afluentes do Tocantins.

A sociedade que se estruturou nas minas caracterizou-se pelo relaxamento dos costumes e pela violência. Fugitivos por dívidas ou por passado criminal ali se refugiaram. Eram raros os casamentos, e predominavam, ao longo do período colonial, as ligações livres. O grande número de escravos, calculado entre 13.000 e 14.000 no ano de 1736, e a falta de mulheres brancas, conduziram à natural miscigenação com as negras. Assim, no final do século XVIII, os brancos representavam a minoria no contexto populacional (7.200 num total de cinqüenta mil habitantes), enquanto os mulatos constituíam 31% e os escravos, 41%. A população mameluca era inexpressiva, em conseqüência das restrições legais ao amancebamento entre brancos e indígenas, e porque o ódio e ressentimento gerados pela resistência do nativo à escravização impediram a miscigenação.

Capitania de Goiás. Só em 9 de maio de 1748, D. João V desmembrou do governo de São Paulo o território goiano e instituiu a capitania, para a qual nomeou, como governador, D. Marcos de Noronha, ex-governador de Pernambuco e futuro conde dos Arcos. Por esse tempo já se esgotavam as jazidas de ouro, que, se antes era encontrado quase à superfície, agora recuava para o subsolo e para as correntes fluviais, tornando-se de captação difícil. Decaía, dessa forma, a atividade mineira, que durante vinte anos dera lucros fabulosos à coroa portuguesa. Com o objetivo de disciplinar a mineração e evitar o esgotamento das jazidas, D. Marcos instituiu novo sistema de arrecadação, restringiu as despesas e construiu as casas de fundição das vilas de Goiás e São Félix.

Em 1754 sucedeu-lhe na administração José Xavier Botelho Távora, conde de São Miguel, e em seguida João Manuel de Melo, que governou de 1759 até 1770 e deu os primeiros passos para a franquia da navegação dos rios Araguaia e Tocantins, como meio de ligar ao resto do Brasil a capitania de Goiás. Em 1772 assumiu o governo José de Almeida Vasconcelos Soveral e Carvalho, barão de Mossâmedes e visconde da Lapa, o primeiro a se preocupar menos com o problema da mineração e atentar mais para a administração da capitania. Estimulou a transferência de trabalhadores para as atividades agrícolas, a catequese dos índios e a instrução pública, e edificou no Araguaia o presídio São Pedro do Sul. Sua linha administrativa foi seguida por Luís da Cunha Meneses, que lhe sucedeu em 1778, em cujo governo foi aberta a navegação daquele grande rio da bacia Amazônica.

Período de transição. No final do século XVIII o comércio se ressentiu da decadência geral que estreitou cada vez mais o mercado consumidor. Houve breves períodos de reação, em que a exportação excedeu a importação e as estatísticas revelaram saldo favorável, mas tornaram-se cada vez mais raras.

As vilas pouco evoluíram em relação ao período inicial. Mesmo Vila Boa, mais próspera, carecia de boas casas, de condições sanitárias e de conforto. O ensino era precário, tanto em sentido quantitativo quanto qualitativo: somente em 1788 chegaram os primeiros professores, três de primeiras letras, para Vila Boa, Meia Ponte e Pilar, dois de cultura latina e um de retórica. A decadência dos arraiais mineiros provocou a ruralização da vida, já presente à época do governo de Cunha Meneses.

O desenvolvimento da agricultura tornou-se imperioso, não só para abastecer o mercado interno, despojado de condições para importação, mas também como veículo de intensificação do comércio externo, capaz de dar combate à estagnação da capitania. O comércio era dificultado pelos transportes deficientes e pelos impostos. A partir da década de 1780, quando caíram as barreiras restritivas, a navegação fluvial apresentou-se como meio capaz de propiciar novas condições de vida, fundamentadas no intercâmbio mais efetivo com o exterior, mas de resultados pouco compensadores.

Da instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro à independência (1808-1822), a política governamental delineou-se rumo à integração e valorização dos domínios portugueses. Objetivava-se então reerguer as capitanias do Centro-Oeste por meio do aproveitamento técnico das vias fluviais, da renovação das técnicas agropecuárias e da pacificação e utilização do indígena como mão-de-obra.

Iniciou-se então um novo surto de expansão territorial, determinado por algumas novas descobertas auríferas, pelo progresso da pecuária e pela necessidade de conter o indígena, um dos principais entraves ao estabelecimento regular da navegação e do comércio fluviais. Fracassaram as sucessivas tentativas de incremento das sociedades mercantis, quer pelas dificuldades geográficas, quer pela natureza dos produtos agropecuários exportáveis, que não atraíam os comerciantes paraenses mais interessados no ouro, já então inexistente.

Movimentos separatistas. No início do século XIX, Goiás foi obrigado a ceder áreas de seu território às províncias do Maranhão e de Minas Gerais. Pelo alvará de 18 de março de 1809, o norte foi desmembrado da ouvidoria sediada em Vila Boa e constituiu-se em comarca, com sede em São João das Duas Barras. O isolamento levou-o a desligar-se paulatinamente do sul e a vincular-se comercialmente ao Maranhão e ao Pará. A tendência à secessão, já latente, materializou-se após a revolução constitucionalista do Porto, que chegou ao conhecimento dos goianos em 24 de abril de 1821.

Em Natividade, em 14 de setembro, foi proclamada uma junta provisória, que se recusou a aceitar ordens de Vila Boa. Aderiram os antigos arraiais de mineração do norte, cujos eleitores não compareceram para a escolha do governo provisório, em 8 de abril de 1822, em Vila Boa. A junta de Natividade considerou ilegal o novo governo. Palma, alegando ter sido sempre abandonada pelo sul, constituiu-se em província autônoma. As lutas pela liderança do movimento provocaram cisão entre Palma e Natividade e enfraqueceram o movimento, que acabou por ser debelado em 1823.

As características mais relevantes do período monárquico foram a busca de soluções para os problemas econômico-financeiros e para a pacificação social. O comércio fluvial e as atividades agrárias foram incentivados. A pecuária passou a representar o sustentáculo econômico da província, motivando a penetração de novas levas humanas no território goiano: baianos, maranhenses, piauienses, mineiros e paulistas. A agricultura, até a segunda metade do século, tinha ocupado posição secundária. Foram exceções as culturas do fumo, de Natividade e Meia Ponte, e do café, em diversas regiões. Desenvolveu-se a indústria de couros. Até o final da quarta década, a província experimentou um lento progresso, que não chegou a representar dinamização em sentido global.

Caetano Maria Lopes Gama foi o primeiro presidente de Goiás nomeado pelo imperador (1824). Seu sucessor, Miguel Lino de Morais (1827), ao ver que nada era possível realizar por falta de recursos, incentivou o desenvolvimento da agricultura e da pecuária. Graças a essa medida, houve produção em larga escala de algodão, fato que levou o presidente à criação, em 1828, de uma fábrica de tecidos, primeiro estabelecimento manufatureiro de Goiás.

Logo em seguida, com o objetivo de facilitar a aquisição de instrumentos agrícolas, Lino de Morais incrementou o estabelecimento de uma fábrica de ferro em São José de Mossâmedes. Mandou à pacificação dos indígenas, principalmente caiapós e canoeiros, a índia Damiana da Cunha, que se tornou famosa por seu heroísmo e abnegação nas lutas pela catequese.

Lutas regionais. Foi Lino de Morais o primeiro a compreender e expor, por ocasião da instalação do Conselho Geral em 1830, a necessidade de mudança da capital goiana, o que só veio a efetivar-se um século depois. Isso foi causa de animosidades e conspirações contra seu governo, que terminaram com sua deposição, em 14 de agosto de 1831, por um golpe político-militar.

Nos governos seguintes, pela primeira vez ocupados por goianos -- José Rodrigues Jardim, padre Luís Gonzaga de Camargo Fleury e José de Assis Mascarenhas -- especial atenção foi dada ao problema da instrução pública. Multiplicou-se a partir de então o número de escolas primárias em todo o território da província. Em 1835 iniciou-se a publicação do Correio Oficial, que por mais de um século divulgou os atos governamentais e matérias de interesse geral. Antes desse jornal, havia circulado em Meia Ponte, durante mais de três anos, o Matutina Meia-Pontense, primeiro órgão da imprensa goiana, fundado em 1830.

A elevação paralela do nível educacional preparou o ambiente para a criação, em 1846, do Liceu de Goiás. Tais empreendimentos foram prova do esforço dos presidentes da antiga província, dos quais há que destacar, além dos citados, o comendador Antônio de Pádua Fleury, Olímpio Machado, José Martins Pereira de Alencastre e João Bonifácio Gomes de Siqueira. Percebe-se, porém, por seus relatórios e memoriais, que se obstinavam em impulsionar a navegação do Araguaia (da mesma forma que antes os sucessivos governadores da capitania teimavam em incrementar a exploração do ouro) em detrimento de outras medidas administrativas.

A população, que no final do século XVIII se mostrava estacionária e que em 1837 fora estimada em 117.000 habitantes, atingiu em 1872 a casa de 160.000. A progressiva decadência de Vila Boa após o surto mineratório levou o presidente José Vieira Couto de Magalhães a defender a mudança da capital para a região do Araguaia (Leopoldina), em 1863. Graças a sua atuação, concretizou-se o intercâmbio regular com o Pará, com o estabelecimento da navegação a vapor do Araguaia, em 1868 e, posteriormente, do Tocantins, até Belém.

Em 1865, Goiás se viu na contingência de enviar tropas ao sul de Mato Grosso, então invadido pelo exército paraguaio. Goiás participou ativamente da guerra do Paraguai, na condição de fornecedora de tropas e de víveres para os combatentes.

O presidente Augusto Ferreira França mandou para o campo de guerra um batalhão de infantaria, um esquadrão de cavalaria e ainda um batalhão de voluntários goianos. Terminada a guerra, seguiu-se, até a proclamação da república, um período sem acontecimentos merecedores de menção, em vista da descontinuidade administrativa ocasionada pela sucessiva mudança de quadros dirigentes, como resultado da instabilidade da política liberal e conservadora que caracterizou os últimos anos do segundo império. Em compensação, a partir de 1870 houve um florescimento das atividades literárias e jornalísticas, graças à atuação de Félix de Bulhões, poeta, jornalista e líder abolicionista.

A partir da década de 1860 a província progrediu também economicamente, devido sobretudo ao crescimento do rebanho bovino e à expansão da agricultura. A indústria de couros prosperou, juntamente com o início da fabricação de tecidos de algodão, graças à abundância de matéria-prima. Existiam já em 1861 cerca de 1.500 teares. No município de Formosa, começaram a ser fabricados implementos agrícolas de ferro.

Primeira república. A república não trouxe modificação sensível ao panorama geral da vida goiana. Logo depois da promulgação da constituição de 1891, uma expedição chefiada por Luís Cruls demarcou uma área pertencente ao estado de Goiás, no planalto central, como ponto ideal para a localização da sede do governo brasileiro. O grande estado mediterrâneo, quase isolado do resto do país, tinha sua principal fonte de riqueza na atividade agropecuária, que não se arruinara ou se modificara com a deficiência de braços resultante da abolição da escravatura.

Do final do período monárquico até 1930, o povoamento se intensificou graças à atividade rural e à expansão das ferrovias, que facilitaram o intercâmbio comercial com o sul e contribuíram para o povoamento das regiões sul, sudeste e sudoeste do estado. Novos povoados se formaram a partir de 1888 e, até 1930, constituíram-se 12 novos municípios.

A população, que em 1890 era de 225.000 almas, duplicou em trinta anos. O norte ainda era a região menos povoada. Em 1924 foi tentada pela primeira vez, embora sem sucesso, a colonização européia, com o estabelecimento da colônia alemã de Uvá e Itapirapuã. A navegação fluvial, que havia prosperado no século anterior, ainda foi intensa nos primeiros anos da república, principalmente em função do abastecimento dos seringais da Amazônia. As comunicações com o sul melhoraram à medida que se expandiam os trilhos. Até o final da primeira década do século, o intercâmbio se fazia por Araguari, para onde os produtos goianos eram levados em lombo de burros.

Em 1913 Goiandira passou a ser servida pela estrada de ferro, mas somente em 1930 esta se estendeu até Bonfim (Silvânia). Em 1926, um século após a construção do Hospital São Pedro de Alcântara de Vila Boa (1825), foi instalado o segundo hospital do estado, em Anápolis (Hospital Evangélico Goiano).

Coronelismo. Em decorrência da agropecuária extensiva formaram-se os latifúndios, com suas implicações econômicas e sociais. No campo predominaram características semifeudais. No norte, região mais desabitada, reinou certa instabilidade, motivada pelo banditismo de jagunços e pela luta dos coronéis.

Com a república, os clãs que se formaram ao longo do império, já então depositários do poder econômico, dominaram a vida política. Os vícios eleitorais e o coronelismo, decorrentes da estrutura econômica e social, somados à "política dos governadores" implantada por Campos Sales, deram origem às oligarquias dos coronéis, já consolidadas em 1920 e que se sucederam até 1930: José Leopoldo de Bulhões Jardim, José Xavier de Almeida, Eugênio Rodrigues Jardim e Antônio Ramos Caiado. O personalismo desses chefes, que se sobrepunham aos poderes legislativo e judiciário, e as relações de vassalagem pelo voto caracterizam a política da época. A oposição se estruturou em função das contradições interpartidárias, da reação no plano nacional, pelos movimentos de 1922 e 1924 e do contato com o tenentismo do sudoeste goiano. Sua liderança foi assumida por intelectuais e liberais aliados aos políticos dissidentes. Coligaram-se os movimentos aliancistas, e, com a vitória da revolução de 1930, a máquina eleitoral e administrativa cheia de falhas, que dominava o estado havia mais de trinta anos, começou a ser desarticulada. A intensificação da interiorização e a dinamização econômica caracterizaram o período posterior a 1930.

Nova capital. A partir da década de 1930, o estado entrou numa fase de real prosperidade. O novo governo, chefiado por Pedro Ludovico Teixeira, escolheu como meta inicial a mudança da capital do estado. Em dezembro de 1932 foi decretada a mudança de sede do governo para um local próximo da cidade de Anápolis, que iria receber em breve a Estrada de Ferro de Goiás.

Com poucos recursos, baseada num empréstimo concedido pelo Banco do Brasil, iniciou-se a construção da nova capital, a que foi dado o nome de Goiânia, de acordo com projeto do engenheiro Atílio Correia Lima e do urbanista Armando de Godói. Em março de 1937, já concluídos os principais edifícios públicos e algumas casas de moradia, foi decretada a transferência da capital, inaugurada em 1942.

A construção de Goiânia coincidiu com a instalação, pelo governo federal, de colônias agrícolas em várias regiões do estado, como decorrência da política da marcha para o oeste. Desse modo, constituíram-se cidades novas como Ceres, Rialma, Uruana, Britânia e outras, as duas primeiras fundadas pelo engenheiro Bernardo Saião Carvalho Araújo, que foi mais tarde encarregado pelo presidente Juscelino Kubitschek de comandar a construção de Brasília.

Modernização. A transferência da capital do estado para Goiânia; a chegada da estrada de ferro a Anápolis, permitindo o adensamento populacional do sul; a programação da expansão agrícola pelo governo federal com a criação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás, em 1941; e a escolha do planalto central, por determinação da constituição de 1946, para sede da nova capital do Brasil, concretizada com a inauguração de Brasília -- tudo isso representa alguns dos condicionamentos mais relevantes do processo de modernização de Goiás.

A eletrificação, empreendida pela Celg com recursos do estado, contribuiu para o aceleramento da urbanização e o início da industrialização, bem como trouxe novos atores à cena política, embora predominasse ainda a liderança da agropecuária na representação legislativa e executiva. Eleito em 1961, Mauro Borges Teixeira, filho de Pedro Ludovico Teixeira e militar de carreira, foi o primeiro governante goiano a tentar o planejamento econômico e administrativo do estado. O plano tinha como bases a exploração do potencial mineralógico, por meio da Metais de Goiás S.A. (Metago); o aproveitamento industrial das riquezas extrativas e dos produtos agrícolas; e o aumento da produtividade agrícola mediante o aprimoramento técnico.

Por resistir ao golpe militar de 1964, Mauro Borges teve o mandato cassado, seus direitos políticos suspensos por dez anos e foi reformado como coronel. O governo do estado coube, até 1965, a um interventor, o coronel Carlos Meira Matos. Em 1983, o governador Íris Resende retomou as grandes obras de infra-estrutura como condição para atrair capitais de investimentos e assim dinamizar o extrativismo mineral, multiplicar a produção agrícola e fomentar a industrialização do estado.

Em 1988, a Assembléia Nacional Constituinte criou o estado de Tocantins por desmembramento do norte do estado de Goiás, que assim perdeu 277.322km2 de seu território. Em 1991, o governo federal concedeu ao estado, pelo patrimônio transferido para o estado de Tocantins, uma indenização que foi investida na construção de casas populares e na recuperação de estradas vicinais.

Em 1997 foi inaugurado em Abadia de Goiás, a vinte quilômetros de Goiânia, um depósito especial subterrâneo, mandado construir por decisão da Comissão Nacional de Energia Nuclear (cnen). O depósito, com paredes de quarenta centímetros, destinava-se a receber seis mil toneladas de rejeitos radioativos resultados do trágico episódio ocorrido na capital, em setembro de 1987, quando biscateiros abriram uma cápsula de césio 137, encontrada num ferro-velho e proveniente de uma clínica desativada. O acidente radiológico, um dos mais graves de que se tem notícia no mundo, provocou a morte de quatro pessoas e contaminou centenas de outras.