domingo, 8 de agosto de 2010

Rio de Janeiro: História

O nome Rio de Janeiro originou-se de um equívoco dos exploradores portugueses que, a 1º de janeiro de 1502, comandados, ao que tudo indica, por André Gonçalves, descobriram a baía atualmente chamada Guanabara. Ao confundirem a entrada da barra com a embocadura de um rio, chamaram à baía "do Rio de Janeiro", nome que depois se estenderia à cidade do Rio de Janeiro, e desta ao estado.

O termo fluminense (do latim flumen, -inis, "rio", e o sufixo ense) aplicou-se durante muito tempo tanto ao natural do estado do Rio de Janeiro como ao da cidade do Rio de Janeiro, ou para qualificar coisas e fatos relacionados ao estado ou à cidade. Os fluminenses da cidade, não obstante, iriam com o tempo preferir chamar-se a si próprios "cariocas" (em tupi kari'oka, "casa de branco"), termo de existência antiga e que afinal prevaleceu, de forma absoluta, para designar os naturais da cidade do Rio de Janeiro. De início, o nome se referia a uma casa de pedra, construída à européia e erguida antes da função da cidade, entre os atuais morro da Viúva e o outeiro da Glória. Inúmeros documentos da época atestam a existência dessa casa, sem que se saiba ao certo quem a teria edificado.

Período de exploração da terra. A coroa portuguesa, à época do descobrimento do Brasil, tinha seus recursos de capital e mão-de-obra canalizados para a manutenção das feitorias situadas nas Índias Orientais e ao longo da costa africana. A atividade comercial desenvolvida nessas regiões era empresa de rentabilidade alta e garantida. Somente a existência de metais preciosos, como no caso da América espanhola, poderia atrair o interesse para a nova terra. Se não se confirmasse a hipótese, a metrópole limitar-se-ia a enviar ao local expedições de reconhecimento e guarda-costas.

A primeira expedição que explorou o litoral brasileiro, entre os anos de 1501 e 1502, tocou diferentes pontos da costa fluminense, como o cabo de São Tomé, a baía de Guanabara e Angra dos Reis. A exploração da única riqueza aparente, o pau-brasil, abundante no litoral fluminense, foi concedida sob a forma de privilégios a alguns interessados, e surgiram, em conseqüência, estabelecimentos portugueses, ainda que transitórios, para atendimento da procura dos contratadores. São vagas, todavia, as informações sobre esses pontos iniciais do comércio português na região, em que se incluem, como principais, Cabo Frio (Américo Vespúcio aí edificou um forte em 1502, e em 1504 criou-se no local uma feitoria) e Rio de Janeiro (onde estabeleceu-se uma feitoria em 1503 e outra em 1511). A população pré-cabralina era representada pelos tamoios, do grupo jê, pelos goitacases e pelos aimorés.

Os cronistas da época atestam fartamente a atividade francesa na área fluminense, com vistas à exploração de seus recursos naturais, não só de pau-brasil, como da mão-de-obra nativa. A influência dos franceses, baseada principalmente na aliança com os tamoios, exercia-se no litoral compreendido entre o rio Macaé e as proximidades de Angra dos Reis. Acentue-se ademais, em relação a esse período, a importância do trabalho indígena, responsável pela abertura de picadas e clareiras, derrubada de árvores e seu transporte para as feitorias, já que não se encontravam na terra animais utilizáveis para o serviço de tração.

O início da colonização. A cobiça por parte de outras potências e principalmente a presença francesa no Brasil motivaram a metrópole no sentido de promover-lhe a colonização. Com a divisão do vasto território em capitanias hereditárias, o futuro estado do Rio de Janeiro passou a fazer parte de duas capitanias: a de São Tomé, que coube a Pero de Góis, vizinha à do Espírito Santo, e a de São Vicente, doada a Martim Afonso de Sousa.

O donatário de São Tomé tentou desenvolver a lavoura canavieira em sua capitania. Fundou a vila da Rainha, mas teve de abandoná-la, e retornou ao reino: em carta datada de 1545, explicou que os bugres destruíram a vila. Quanto à área do futuro estado localizada na outra capitania, não teve condições de povoamento, pois o donatário concentrou seus esforços na parte sul do quinhão que lhe coube, e que cresceu em torno do porto de São Vicente.

Quando se iniciou o governo-geral, o litoral fluminense estava praticamente despovoado, ou com alguns arraiais insignificantes. Tomé de Sousa, em 1552, comunicou ao reino que na baía do Rio de Janeiro nada havia e ali se devia mandar fazer "uma povoação honrada e boa", pois era ponto preferido dos franceses. A presença dos franceses não se manifestava apenas por incursões periódicas, mas chegou ao estabelecimento de uma colônia no local, em 1555: a França Antártica. O episódio culminou com a expulsão dos invasores, a fundação, em 1565, do primeiro núcleo da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e sua implantação definitiva em 1567.

O quinhão de Martim Afonso de Sousa reverteu à coroa e passou a constituir a capitania do Rio de Janeiro. Concederam-se diversas sesmarias a povoadores e fundaram-se povoações, como a de Majepe (depois Majé) e a aldeia de São Lourenço, sob o comando de Araribóia.

Em seu Tratado da terra do Brasil, que se supõe redigido no final da década de 1560, afirma Pero de Magalhães Gândavo, com referência ao estado do Rio de Janeiro: "Agora se começa a povoar novamente." Mas era ainda pouco significativo o número de portugueses na região. Possivelmente não chegava a 200, enquanto em Pernambuco e Bahia já passavam de mil.

Posse efetiva da terra. A fundação em caráter definitivo da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, a divisão administrativa da colônia em 1572, com a sede do governo do sul no Rio de Janeiro, a perseguição aos corsários estrangeiros e a guerra contra os indígenas seus aliados foram fatores decisivos para a ocupação de muitas das zonas do litoral e da baixada fluminense. Essa ocupação é atestada pela criação de várias aldeias, povoados, freguesias e vilas, tais como Angra dos Reis, Cabo Frio, Atafona, São João de Itaboraí, São Pedro da Aldeia, Macaé, São Gonçalo de Guaxindiba, Parati e São Salvador dos Campos dos Goitacases. A antiga capitania de Pero de Góis reverteu à coroa no século XVII e foi incorporada à capitania do Rio de Janeiro.

No quadro das atividades econômicas desse período, lembre-se a permanência de atividades extrativas -- pau-brasil e sal --, esta última principalmente em Cabo Frio, apesar dos entraves criados pela metrópole. A pesca foi bastante estimulada pelo governo. Ovas salgadas e secas eram exportadas para a Bahia. A atividade baleeira também foi incrementada, assim como o cultivo da mandioca e o preparo da farinha. A cultura da cana-de-açúcar consolidou-se após o fracasso da fase das capitanias.

No final do século XVI só havia três engenhos no estado. No início do século seguinte, esses estabelecimentos começaram a multiplicar-se em torno do recôncavo da cidade do Rio de Janeiro e, a partir de 1650, na zona de Campos. No final do século XVII já existiam nesses dois núcleos canavieiros mais de cem engenhos. Também iria desenvolver-se a pecuária, ligada principalmente às necessidades da lavoura açucareira (subsistência e força de tração) e ao abastecimento da cidade do Rio de Janeiro. Seu centro foi a planície dos Goitacases. Apesar do desenvolvimento dessas atividades, a região ocupava ainda lugar secundário no quadro da economia colonial, que teve no Nordeste e no Recôncavo Baiano os centros principais. A mão-de-obra continuou a ser principalmente a indígena, cujo fornecimento era garantido pelos paulistas.

Os sete capitães. Por requerimento de Miguel Aires Maldonado, Miguel da Silva Riscado, Antônio Pereira Pinto, João de Castilho, Gonçalo Correia de Sá, Manuel Correia e Duarte Correia, homens de prestígio no Rio de Janeiro, que já tinham prestado serviços ao rei, foi-lhes concedida uma sesmaria, em 1627, desde o rio Macaé até o Iguaçu, em terras abandonadas da donataria de São Tomé. Divididos seus quinhões, iniciaram os primeiros currais de criação e passaram a arrendar terras a novos moradores, que nelas se fixaram, dedicando-se à pecuária. O principal foco desse povoamento foi Campos, que os "vizinhos" tentaram elevar à categoria de vila.

Salvador Correia de Sá e Benevides, governador do Rio de Janeiro, apossou-se de parte do território, fundou em 1650 o primeiro engenho da região e expulsou muitos dos moradores, que fizeram a segunda tentativa de criação da vila. Em 1674, finalmente, conseguiu Salvador de Sá a restauração da capitania de São Tomé em benefício de seus filhos. Os descendentes dos "sete capitães" não conseguiram embargar a doação. A vila foi fundada em 1677, mas os direitos de sua representação não foram reconhecidos pelos donatários. Durante quase um século lutariam os moradores e várias gerações dos viscondes de Asseca, descendentes de Salvador de Sá. Por duas vezes a capitania foi seqüestrada pela coroa, mas retornou ao controle dos Assecas.

Do ponto de vista histórico, existe uma explicação mais profunda para a resistência campista, fora do precoce espírito de autonomia, de que tanto se ufanam os fluminenses. Nas capitanias particulares de grande importância, como Pernambuco, o pagamento de alguns tributos, por meio de funcionários, em benefício de um senhorio distante, pouco significava para o poder da coroa e a vitalidade dos colonos. Quase nada representava o fato de a rica província ainda ter um donatário no início do século XVIII. No caso, porém, das pequenas donatarias, acentuava-se a relação de exploração entre senhor e moradores. Daí a existência de conflitos, como os de Campos dos Goitacases.

O último esforço de luta campista, em que sobressaíram as heroínas Benta Pereira e Mariana Barreto, coincide com os interesses administrativos do marquês de Pombal, no sentido de extinguir esses vestígios do feudalismo. Para atender aos reclamos da população campista, o poderoso ministro português incorporou quase todas as donatarias ainda existentes na colônia.

Período de mineração. A mineração foi responsável por grandes transformações registradas na vida política e socioeconômica do Brasil e a região fluminense sofreu o impacto direto dessas transformações. O crescimento demográfico, o desenvolvimento do trabalho livre, a alta lucratividade e a especialização que lhe é inerente, além da fragmentação da renda, ampliaram consideravelmente o mercado interno. Embora o impulso dinâmico criado pela mineração se canalizasse em parte para o exterior, desenvolveu-se paralelamente uma ponderável corrente de comércio interno, de que surgiram as primeiras fazendas de policultura, voltadas para o mercado nascente.

Vários municípios fluminenses tiveram sua origem como postos de descanso e abastecimento de tropeiros. Essa dinamização deveu-se, sobretudo, ao abandono do antigo caminho das minas, que volteava por Parati e Taubaté, e à abertura de novas rotas que ligavam diretamente a região das minas à baía de Guanabara. O porto do Rio de Janeiro passou a aparelhar-se e a ganhar importância, principalmente depois do fechamento do porto de Santos, para melhor fiscalização dos quintos. O período da mineração foi responsável pelo deslocamento do eixo econômico para a região centro-sul e pela mudança da capital para a cidade do Rio de Janeiro, em 1763.

A partir de 1808, com a instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro, as atividades agrícolas e pastoris se desenvolveram na terra fluminense, com vistas ao abastecimento da cidade. Várias medidas governamentais propiciaram esse desenvolvimento, entre elas o saneamento da região dos Campos dos Goitacases e a colonização promovida por D. João VI na região de Cantagalo, com o estabelecimento de uma comunidade suíça na área. Em 1819 foi elevada à categoria de vila a povoação de São Domingos da Praia Grande, com o nome de Vila Real da Praia Grande, a futura Niterói.

Império. Após a independência, por que tanto aspirara e para cuja proclamação o grupo político fluminense contribuíra de maneira significativa, a província do Rio de Janeiro não ganhou a categoria de unidade político-administrativa do tipo das demais que então se organizaram e compuseram a estrutura unitária do império. No período de D. João, o ministro do Reino, como que substituindo o vice-rei, administrava o território. Agora seria o ministro do Império que, por meio de avisos, dirigidos às câmaras municipais, regulava a vida político-administrativa, fixando normas e procedimentos. A província fluminense constituía, assim, unidade sui generis no quadro imperial. E o Rio de Janeiro, como o maior centro urbano do país e por sua condição de capital do império, atraía as atenções gerais e comandava a vida nacional. Crescia e também se refinava social e culturalmente.

Com o ato adicional de 12 de agosto de 1834, a província fluminense passou a integrar o sistema político-administrativo em vigor para as demais unidades do império, com presidente (nomeado pelo imperador) e Assembléia Lagislativa Provincial. Encerrado assim o regime de exceção a que se condicionara desde o início da vida independente do Brasil. Pelo ato adicional, entretanto, a cidade do Rio de Janeiro, sem deixar de integrar a província, retornava, como "município neutro", à condição especialíssima do passado, com Câmara Municipal, mas sem interferência de qualquer espécie, em sua vida, da presidência da província. Era sede da monarquia e de todo o poder central do país.

O primeiro presidente da província, nomeado pelo regente, foi Joaquim José Rodrigues Torres, mais tarde visconde de Itaboraí. A primeira assembléia provincial reuniu-se em 1835 e no mesmo ano a Vila Real da Praia Grande foi elevada à categoria de cidade com o nome de Niterói e escolhida como capital da província. Na vida política do império iriam ter influência decisiva fluminenses ilustres, sob a incontestável liderança da oligarquia saquarema, em que se incluíam, além de Itaboraí, as figuras de Eusébio de Queirós e de Paulino José Soares de Sousa, visconde do Uruguai.

À época da independência, a economia colonial achava-se em crise, pela decadência dos setores tradicionais de exportação. Diante da impossibilidade do desenvolvimento das atividades manufatureiras, manteve-se no país a estrutura colonial de economia agrícola, exportadora de matéria-prima, monocultora, extensiva e escravista, enquanto só se inseria no antigo quadro um novo produto: o café.

No Rio de Janeiro, além da decadência da mineração, era notável a presença de fatores ociosos, entre os quais a própria terra, que permitiram a gestação da economia cafeeira: a mão-de-obra escrava subutilizada, a estrutura comercial, as tropas de mulas e o porto. O café, além de nota dominante da atividade econômica da província, seria o principal sustentáculo da economia imperial. A exportação brasileira concentrou-se progressivamente nesse produto: nos meados do século, o café alcançou quase metade do valor total da exportação e a produção fluminense contribuiu, até a década de 1860, com mais de setenta por cento desse total.

A produção açucareira também cresceu expressivamente e em 1870 surgiram os primeiros engenhos centrais. As vantagens da cafeicultura, porém, eram bem maiores, graças aos preços, à procura crescente e sobretudo à menor capitalização que exigia, uma vez que seu beneficiamento era muito mais em conta que o do açúcar, com o uso de implementos mais simples e quase sempre de fabricação local.

A par da prosperidade econômica da província, acentuou-se o prestígio político dos barões do café, o refinamento da sociedade e a urbanização crescente. Essa etapa marcou, ainda, o início da construção das ferrovias. A primeira estrada de ferro da região, de iniciativa do barão (depois visconde) de Mauá, foi inaugurada em 1854, e estendia-se do porto da Estrela a Raiz da Serra, a caminho de Petrópolis, a cidade que, no império, seria um prolongamento da corte e onde, na república, os presidentes teriam sua residência de verão. Outras localidades, como Vassouras, Barra do Piraí, Rio Bonito, Itaboraí, São Fidélis e Campos, também foram servidas por ferrovias.

Nos últimos anos do império a lavoura cafeeira fluminense já se encontrava em decadência. Após a abolição do tráfico negreiro, o problema da reposição do trabalho escravo, que exigia grandes reinvestimentos, fora solucionado, em parte, pelo tráfico interprovincial. A lei de 13 de maio de 1888 acarretou os mais desastrosos efeitos para a economia fluminense. As tentativas de recrutar trabalhadores livres na lavoura tradicional tinham fracassado; e os fazendeiros fluminenses apegavam-se ao trabalho servil, mesmo quando já sabiam de sua inevitável abolição. A precariedade econômico-financeira dos cafeicultores fluminenses, no final do império, é comprovada pelo grande número de fazendas, algumas de grande importância, hipotecadas ao Banco do Brasil e com suas dívidas executadas nesse período.

República. Proclamada a república, Francisco Portela foi nomeado governador do estado do Rio de Janeiro. Era um nome que parecia conciliar as duas facções do Partido Republicano Fluminense: os evolucionistas chefiados por Quintino Bocaiúva e os radicais da corrente de Silva Jardim. Por ocasião da escolha dos representantes ao congresso constituinte de 1890, a cisão manifestou-se de modo irremediável. Separaram-se os candidatos do governador (Quintino Bocaiúva e Nilo Peçanha) e os candidatos do partido chamado "histórico", aliados aos remanescentes conservadores (Silva Jardim, Alberto Torres, José Tomás da Porciúncula e Paulino José Soares de Sousa Júnior). Venceu a chapa do governador.

Promulgada a constituição federal, em 1891, Portela reuniu sem oposição a assembléia que aprovou a primeira constituição do estado, a 29 de junho de 1891. Com a queda de Deodoro da Fonseca, e com ele solidário, viu-se obrigado a renunciar, a 10 de dezembro do mesmo ano, caindo no ostracismo.

Para substituir Portela, Floriano Peixoto nomeou o contra-almirante Carlos Baltasar da Silveira, baiano, veterano da guerra do Paraguai e desvinculado da política. Uma nova assembléia, com a participação de todas as correntes e sob a presidência de Porciúncula, aprovou a segunda constituição do estado, a 9 de abril de 1892, e elegeu o antigo dissidente para o governo do Rio de Janeiro.

Após cumprir o mandato no governo do estado, Porciúncula elegeu-se deputado federal em 1895. No mesmo ano, foi nomeado ministro plenipotenciário em Montevidéu, onde permaneceu até 1897, ao ser conduzido para o Senado Federal. Apoiou Prudente de Morais contra Francisco Glicério e foi dos principais articuladores da chamada "concentração", em divergência com o Partido Republicano Federal e que garantiu a eleição de Campos Sales à presidência da república.

Porciúncula tornara-se o chefe de maior prestígio da política fluminense e fez os dois presidentes seguintes: Joaquim Maurício de Abreu (de 1894 a 1897) e Alberto de Seixas Martins Torres (de 1897 a 1900). Ambos governaram de Petrópolis, terra natal de Porciúncula, para onde a capital do estado fora transferida em conseqüência da revolta da Armada e das agitações no Rio de Janeiro e em Niterói durante o governo de Floriano Peixoto, em fevereiro de 1894.

Por influência de Porciúncula, Alberto Torres tinha ocupado o Ministério da Justiça no governo de Prudente de Morais. Durante o interregno de Manuel Vitorino, de novembro de 1896 a março de 1897, mudou a política, e uma questão doméstica, a dualidade de câmaras municipais em Campos, afastou Alberto Torres do posto. Ao reassumir Prudente, Porciúncula desagravou o correligionário e elegeu-o para o governo do estado.

Ascensão de Nilo Peçanha. A proximidade com a capital federal, centro da política nacional, dificultava as composições de cúpula. Ao fim do mandato, Alberto Torres desentendeu-se com Porciúncula. Habilmente manipulado por Nilo Peçanha, surgiu o nome de Quintino Bocaiúva como pacificador. O chefe republicano, então com 64 anos, mostrou-se pessimista ao assumir a administração. Conforme declarou, não passava de "síndico de uma massa falida". Limitou-se a medidas de rigorosa economia e a restabelecer a capital em Niterói, em 1902.

Com o desaparecimento de Porciúncula em 1901 e o declínio de Quintino, que se recusou a voltar ao Senado, consolidou-se a posição de Nilo Peçanha, que em 1903 se elegeu senador e logo depois presidente do estado, para cumprir um mandato de três anos, a ser concluído no fim de 1906. O novo governante promoveu a reforma da constituição estadual e ampliou o mandato presidencial para quatro anos, em uma reforma que provocou nova crise.

Ao meio de brilhante administração, o nome de Nilo Peçanha foi aceito como candidato a vice-presidente da república na chapa de Afonso Pena, na sucessão de Rodrigues Alves. Ao deixar o governo, desejaria que seu mandato (até 1907 e não mais até 1906) fosse completado pelo primeiro de seus três vice-presidentes, Oliveira Botelho. Teve, porém, de ceder à corrente mais forte, que preferiu o secretário-geral e antigo prefeito de Macaé, Alfredo Augusto Guimarães Backer. Foi baixado o decreto 960, que reformava uma vez mais a constituição estadual e convocava novas eleições para o período a iniciar-se no final de 1906.

Eleito e empossado presidente do estado, Alfredo Backer procurou libertar-se da liderança de Nilo Peçanha. Aproximou-se de Afonso Pena, a quem sempre seguiu, quer nas divergências ocorridas quanto à homologação do convênio de Taubaté, em 1906, no empréstimo externo para a valorização do café, quer na questão, mais tarde suscitada, das candidaturas presidenciais. Após a morte de Afonso Pena, num verdadeiro desafio, engajou-se na campanha civilista e apresentou candidato próprio a sua sucessão: Manuel Edwiges de Queirós Vieira.

Quando assumiu a presidência da república, em substituição a Afonso Pena, Nilo Peçanha minimizou o dissídio com Backer e garantiu que sua política seria de "amor e paz". Mas não deixou de contrapor ao nome de Edwiges de Queirós a candidatura do antigo vice-presidente Oliveira Botelho e empenhou-se em sua campanha. O resultado dessa luta foi a dualidade de assembléias legislativas e até de presidentes. O Supremo Tribunal Federal chegou a conceder habeas corpus para garantir a posse do candidato de Backer. O marechal Hermes da Fonseca, contudo, recém-empossado, prestigiou a facção nilista, que levou a melhor.

Nova dualidade de assembléias legislativas ocorreu em 1914, no fim do governo de Oliveira Botelho, mas o presidente Venceslau Brás decidiu acatar a decisão do Supremo Tribunal Federal a favor de Nilo Peçanha, que pela segunda vez assumiu o governo do estado do Rio de Janeiro, em dezembro de 1914. Como na ocasião anterior, Nilo Peçanha não concluiu o mandato, pois em maio de 1917 foi designado para o Ministério das Relações Exteriores. Substituiu-o provisoriamente Francisco Xavier da Silva Guimarães e, depois, Agnelo Geraque Collet, que permaneceu no cargo até o término do mandato, em 31 de dezembro de 1918.

Nos 12 anos seguintes o Rio de Janeiro progrediu economicamente e viu aumentar sua rede viária, mas a política voltou a agitar o estado. O sucessor de Collet, Raul de Morais Veiga, foi também indicado por Nilo Peçanha, que parecia ainda seguro no controle do estado. No entanto, na eleição seguinte, em que apoiou Raul Fernandes, a oposição lançou nova candidatura de Feliciano Sodré, repetindo-se em 1922 a dualidade das assembléias verificada em 1910 e 1914. O presidente Artur Bernardes resolveu então nomear Aurelino Leal interventor no estado do Rio de Janeiro.

A morte de Nilo Peçanha, em 1923, levou seus partidários ao desprestígio político, impondo-se uma nova liderança no estado, a de Feliciano Sodré, eleito e empossado pacificamente em 1923. Sua gestão foi operosa, destacando-se nos setores da administração da capital, a construção dos portos de São Lourenço e Angra dos Reis e a instalação de usinas geradoras de energia elétrica.

Sodré foi substituído na presidência do estado por Manuel Duarte. No quadro da primeira república, o estado do Rio de Janeiro foi um exemplo de sucessão de oligarquias (Portela, Porciúncula, Nilo Peçanha, Feliciano Sodré), cuja maior ou menor duração foi sempre determinada pela dependência orgânica do estado em relação ao antigo Distrito Federal, o que explica a instabilidade dos grupos dirigentes, a vulnerabilidade política do estado e as contínuas intervenções.

Síntese econômica. Durante a República Velha agravou-se no estado do Rio de Janeiro a crise econômica iniciada nos últimos anos do império. As lavouras tradicionais -- café e cana-de-açúcar -- achavam-se em decadência. Muitas grandes propriedades rurais apresentavam baixo nível de produtividade, com terras incultas e por sanear. A produção de café passou a concentrar-se nos vales dos rios Pomba, Muriaé e Itabapoana, principalmente no município de Itaperuna, que se tornou o maior produtor do gênero. Nas áreas cafeicultoras tradicionais, como Cantagalo, Vassouras, Valença e outras, a pecuária extensiva passou a ocupar os solos esgotados, paulatinamente transformados em pastagens.

O cultivo de frutas em escala econômica, sobretudo banana e laranja, iniciou-se na baixada do Rio de Janeiro, mas sua exportação só passaria a ser significativa a partir de 1926, quando os mercados da Europa ocidental, principalmente o britânico, passaram a consumir em larga escala frutas cítricas brasileiras.

A produção industrial não era alvo de estímulo algum, fato que, extrapolando o âmbito fluminense, iria transformar-se em problema nacional durante a primeira república. Destacavam-se núcleos artesanais e manufatureiros, pequenos e restritos, normalmente voltados para o consumo local. A indústria de laticínios alcançou regular desenvolvimento, apesar de seu baixo nível tecnológico. Na produção açucareira a partir de 1915, sobretudo na zona de Campos dos Goitacases, podia-se identificar a evolução para a grande usina, com um englobamento de pequenas propriedades e com o progresso da estrutura técnica do engenho.

Desenvolviam-se também algumas atividades extrativas, como a pesca, principalmente em Cabo Frio, e salineiras, em Araruama, além da exploração de matas em larga escala, altamente predatória, com vistas ao fornecimento de madeira, lenha e carvão para o Rio de Janeiro. Nenhuma dessas atividades apresentava significado econômico considerável, e o estado do Rio de Janeiro perdia, em conseqüência, seu prestígio na exportação, ao mesmo tempo que se dava o desenvolvimento paulatino de outras regiões, como São Paulo e Minas Gerais, esmagada cada vez mais a hegemonia político-econômica que os fluminenses detiveram no período imperial.

Distrito Federal. A perda de substância política que atingiu a província fluminense após a proclamação da república não atingiu a cidade do Rio de Janeiro, que foi transformada em Distrito Federal e se manteve como sede do governo federal. A administração da capital estava a cargo de um prefeito, nomeado pelo presidente da república, mas a Câmara Municipal era, como nos demais centros urbanos, eleita por voto direto. Durante o período em que o Rio de Janeiro foi Distrito Federal, 43 cidadãos ocuparam a prefeitura e por duas vezes -- em dezembro de 1930 e em março de 1932 -- ocorreu a intervenção federal.

O progresso assegurou condições especialíssimas à cidade, que foi saneada pela ação de Osvaldo Cruz e teve sua fisionomia modificada pelas reformas iniciadas pelo prefeito Pereira Passos. A população cresceu e foi criado um parque industrial que se tornou o segundo mais importante do país. Centro das decisões políticas e da irradiação cultural, o Rio de Janeiro abrigava brasileiros de todos os estados, assim como estrangeiros que nele instalaram seus negócios.

Revolução de 1930. De outubro de 1930 a dezembro de 1931, sucederam-se quatro interventores no governo do estado, dos quais somente dois, Plínio Casado e o general João de Deus Mena Barreto, permaneceram mais de cinco meses no cargo. Depois, o almirante Ari Parreiras governou cerca de quatro anos. Seu sucessor foi o almirante Protógenes Guimarães, eleito, que governou dois anos, com uma interrupção por motivo de saúde, durante a qual foi substituído interinamente por Heitor Collet.

Não foi das mais fáceis, nesse período, a situação econômico-financeira do estado, limitado a seus próprios recursos diante da soma de problemas enfrentados pelo país e agravados pelas comoções políticas então ocorridas (revoluções de 1930 e 1932 e o levante comunista de 1935) e pelos reflexos da crise mundial de 1929. A produção cafeeira reduziu-se consideravelmente entre 1930 e 1937, enquanto a canavieira praticamente duplicou. Contudo, desenvolveram-se a indústria de cimento, a partir de 1933, e sobretudo a do aço, na década de 1940.

Com a instalação do Estado Novo, em 1937, foi nomeado interventor o comandante Ernâni do Amaral Peixoto, que governou por quase oito anos. Prestigiado por ser genro do presidente Getúlio Vargas, fez bastante pelo estado, que nesse período deu impulso decisivo à transição para a industrialização, notadamente no vale do Paraíba, onde se iniciou, em 1942, a construção do grande complexo siderúrgico de Volta Redonda. Além disso, Amaral Peixoto reorganizou o sistema tributário, criou novas secretarias e pôs em prática um amplo programa de construção de rodovias.

Governo constitucional. Deposto Vargas em 1945, sucederam-se no governo do estado cinco interventores até a normalização constitucional. A economia fluminense se beneficiou com o setor de metalurgia, que teve na década de 1940 um excelente desempenho no Brasil. Em 1946, começaram a funcionar os altos-fornos e a aciaria da Companhia Siderúrgica Nacional (csn), enquanto o setor de laminados passou a operar em 1948. Também a produção agropecuária foi estimulada no governo (1947-1951) do coronel Edmundo Macedo Soares e Silva, ex-diretor técnico da csn, que promoveu o cooperativismo e facilitou a abertura de créditos rurais.

Nos últimos anos em que a cidade do Rio de Janeiro foi a capital federal, já se registrava um declínio ligeiro, mas progressivo, da participação do estado na indústria de transformação nacional. Apesar do ambicioso plano rodoviário e do projeto de expansão da indústria, promovidos entre 1951 e 1954 por Ernâni do Amaral Peixoto, que voltara eleito ao governo do estado, a economia fluminense passou por um período de estagnação. Só com os investimentos do Plano de Metas do governo federal, a partir de 1957, houve maior incentivo à indústria, com expansão da construção naval e instalação das refinarias de petróleo. A rede elétrica foi também estendida a muitos municípios interioranos.

A década seguinte já se inicia com a região fluminense dividida e a capital federal em Brasília. Esse período de turbulência política no país coincidiu também com algumas crises no estado. Uma das mais sérias ocorreu em 1962, quando o governador Celso Peçanha deixou o cargo para disputar uma cadeira no Senado. Mais uma vez o Rio de Janeiro conviveu com a dualidade de assembléias, presididas por José Kezen e José Carvalho Janotti. O Supremo Tribunal Federal(stf) deu ganho de causa a este último, que assumiu o governo estadual.

Estado da Guanabara. Com a transferência da capital federal para Brasília, surgiu o problema das duas unidades separadas pelo ato adicional de 1834. Uma corrente pleiteava a reunião, enquanto outra desejava a manutenção da autonomia da cidade do Rio de Janeiro, elevada a unidade da federação. Venceu a última. Em 21 de abril de 1960 foi criado o estado da Guanabara, que teve como seu primeiro governador, nomeado, o diplomata José Sette Câmara, sucedido, a 5 de dezembro do mesmo ano, por Carlos Lacerda, eleito a 3 de outubro. Mas a Guanabara continuou a ser o principal pólo de atração do movimento migratório na região fluminense, o que agravou o problema da favelização. Apesar da iniciativa de criar um parque industrial na periferia, o novo estado se manteve à base do setor terciário, que representava cerca de 80% das atividades econômicas.

Fusão. Em 15 de março de 1975 registrou-se a fusão entre os antigos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, por força da lei complementar nº 20. O poder judiciário passou a ser exercido por um tribunal de justiça constituído por desembargadores efetivos dos dois estados, escolhidos a critério do governador. Com a fusão, o território do antigo estado da Guanabara retornou à condição de município. Seu prefeito foi nomeado, em comissão, pelo governador. A Assembléia Constituinte decidiu que a bandeira, o hino e o brasão, bem como os demais símbolos do novo estado, seriam os mesmos do antigo estado do Rio de Janeiro.

A crise econômica do início da década de 1980 concorreu para esvaziar ainda mais a economia fluminense ao desarticular setores industriais tradicionais do estado, como o da construção naval e o têxtil. No plano político, foi a época de predomínio da corrente ligada ao jornalista e advogado Antônio de Pádua Chagas Freitas, que governara a Guanabara entre 1971 e 1975 e assumiu o governo do estado em março de 1980. Já então uma pesquisa indicava ser o problema da segurança a maior preocupação dos cariocas. O aumento de investimentos e a implantação de diversos projetos, entre os quais o das usinas termonucleares no litoral sul do estado, trouxeram novas perspectivas para a economia fluminense. Essa época foi marcada ainda por protestos contra a construção das usinas atômicas e a conscientização de crescentes camadas da população para o problema ecológico. Em 1981, a Secretaria Especial do Meio Ambiente considerou a região metropolitana do Rio de Janeiro uma das áreas críticas em matéria ambiental no Brasil.

As dificuldades financeiras se agravaram durante o ano de 1982, marcado pela eleição do engenheiro e ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola. O problema da segurança tornou-se particularmente agudo, com a multiplicação de assaltos e roubos e o aumento da criminalidade em geral. No entanto, teve grande repercussão o programa dos Centros Integrados de Educação Pública (cieps), dirigido pelo vice-governador e secretário de Ciência e Cultura, Darci Ribeiro. Em 1985 foi sancionado projeto de lei pelo qual a Petrobrás ficava obrigada a pagar aos estados, aos municípios próximos e à Marinha royalties de cinco por cento sobre o valor do petróleo extraído da plataforma continental. Dois anos depois, já na gestão de Wellington Moreira Franco, o governo estadual começou a receber os royalties pela produção de petróleo e gás natural.

A repercussão na imprensa internacional dos problemas de degradação urbana e de violência na década de 1990 prejudicou sensivelmente o turismo na capital do estado. Apesar disso, o segundo governo de Leonel Brizola obteve alguns resultados positivos, como a construção da "linha vermelha", ligação entre a capital e os municípios da área metropolitana. Já no fim da década, a economia do Rio de Janeiro sofreu novo processo de mudança, durante o governo de Marcelo Alencar, com a privatização das principais empresas estatais e a instalação de importantes fábricas do setor automotivo no interior do estado. (Para lista de governantes, ver Datapédia.)